Eu acredito muito em uma frase: A disciplina vence a habilidade.
Chegamos em momento da atualidade onde a cultura do “Faça o que você ama” venceu ou parece ter vencido, mas será verdade?! Essa cultura do “amor” está por todos os lados, em qualquer meio de comunicação, blog ou post em redes sociais. Algumas pessoas adoram dizer que amam o que fazem pelas timelines da vida, tornando público seu gosto e energia intermináveis ao executar a sua bela lista de tarefas diárias (geralmente todas são ótimas e motivadoras).
Por mim “tudo bem”, ninguém pode dizer que as pessoas que postam estão mentindo. Pode ser que essas pessoas provem de alta energia e constante êxtase ao sentarem-se na frente dos seus computadores e olharem seus e-mails ou fazerem atividades rotineiras ou irem pra academia (o que chamaríamos de tarefa chata). Enfim, não posso duvidar.
A verdade é que nem tudo na vida dá essa animação toda!
Os projetos profissionais e pessoais mais empolgantes têm partes que não são tão interessantes. Os músicos mais famosos, por exemplo, que nos fazem sonhar com uma vida de glamour, têm de ensaiar, praticar, falar com produtores, quebrar cabeça para compor e tornar as ideias concretas. Também aquele cara incrível que parece ter a vida dos sonhos, tem de responder e-mails chatos, com gente chata, em reuniões chatas, para resolver problemas chatos. Há e mais, ambos exemplos acima precisam pagar contas para manter seu estilo de vida.
Quem me conhece e já trocamos algumas ideias já deve ter escutado que pra mim o maior ato de DISCIPLINA é: levantar da cama todos os dias antes de ir pro trabalho. Isso é árduo e precisa ser cultivado, diariamente, ser vencido em dias quentes ou frios, dias mais cansados ou menos cansados, dias com a cama super boa e dias com a cama ruim. É preciso CULTIVAR A DISCIPLINA para CUMPRIR diariamente esta simples tarefa!
Mas, será que já não somos disciplinados?
Pare e pense: para muitas coisas na vida nós já fazemos esforços sistemáticos e disciplinados. O exemplo mais claro disso que me vem à mente é quanto ao uso da internet e redes sociais.
Geralmente, ao acordar, antes de abrir os olhos: cadê meu celular?! Então, num ato teatral estica-se a mão (ainda de olhos fechados) e encontra-o no criado ao lado da cama munido daquele sentimento de felicidade! Ufa! Achei você. Brincadeiras a parte, checamos nossas redes sociais diariamente, lemos e respondemos nossas mensagens, vemos se os amigos estão postando algo de legal, consumimos uma, outra ou quase nada de informação que seja “útil”, notícias, etc. Podemos passar algumas horas fazendo isso sem sequer sentir o tempo passar.
Pense aí sozinho agora: Quanto tempo hoje ficou no celular em redes sociais?! Precisa responder não, guarde para você. (Rs)
Quando usamos a palavra “disciplina”, tendemos a pensar que ela se refere apenas a esforços estoicos e, de imediato, já a associamos a uma sensação negativa ou dolorosa, a de estarmos puxando um trem carregado e sentindo dores. Mas nem sempre é assim. Conseguimos ser disciplinados sem, necessariamente, fazer um enorme esforço para isso.
O que me levou a pensar e escrever este artigo foi: por que as pessoas colocam esses esforços sistemáticos durante várias vezes ao dia em uma tarefa que não acaba nunca, demanda bastante energia e atenção e é basicamente inútil, como limpar notificações de Facebook, mas não conseguem colocar esse mesmo foco naquelas que podem ser bem mais satisfatórias?
A resposta que encontro é, somos movidos por incentivos visuais, físicos ou simplesmente psicológicos. O fato principal é que quanto mais rápido vier este incentivo melhor. Algumas ações nos fazem ter a sensação de sermos recompensados muito mais depressa. É o caso de comer chocolate, jogar videogame, usar o Facebook ou o Instagram, etc.
Essas são atividades que disparam nosso sistema de recompensa e, por isso se tornam facilmente aditivas. Você acaba sendo naturalmente atraído por elas depois de algum tempo.
Assim, a gente evita se engajar em tarefas nas quais não visualizemos a recompensa chegando, que se tornam demoradas, de perda fácil quando se conquista e principalmente quando doem ou nos fazem sair da zona de conforto. Ou, mesmo que acabe vendo, cognitivamente, somos enganados pelo nosso movimento de energia, que acaba nos conduzindo pra essas ações não muito lucrativas no longo prazo.
Até faz algum sentido, afinal, se eu posso ter satisfação muito mais rápido, pra que diabos eu vou me engajar em algo bem mais demorado e chato? Principalmente neste mundo veloz dos dias atuais.
No fundo, a gente gostaria de sentir esse impulso também pras coisas que nos beneficiariam mais. Quem não gostaria de sentir a mesma vontade (impulso) que tem quando deseja tomar uma açaí grande com todos os toppings possíveis (quanto mais doce melhor), só que ter este mesmo impulso positivo para escrever um livro ou artigo, estudar pro vestibular, fazer uma dieta ou ir pra academia?
Uma notícia triste é que isso não vai acontecer.
Em artigos anteriores escrevi que não acredito na automotivação e continuo defendendo isto. Porém, sabemos que é totalmente difícil operar sem motivação. Poxa Fernando, mas que loucura é esta que você está se contradizendo? Na verdade o que quero dizer é que motivação não é a solução de problemas, é apenas um meio de “ligar seu corpo”, mas não faz o “corpo ser mais leva e mais veloz”, isso é com a disciplina.
Na vida iremos oscilar a motivação por vários motivos que nos cercam (família, trabalho, dinheiro, conquistas não realizadas) e isso não temos total controle, mas a disciplina é exclusivamente nossa responsabilidade e ninguém pode fazer com nós.
Para exercitar sua disciplina, sugiro pegar algo chato e praticar (disciplinadamente todos os dias, no mesmo horário, da mesma forma – talvez não com mesmo ânimo / motivação – mas faça!). Um exemplo é ir para academia: Vá durante 10 dias consecutivos, principalmente se abrir no sábado e no domingo mesmo que não “queira puxar ferro” vá e faça nem que sejam 30 min andando em uma esteira, mas VÁ e FAÇA!
Faça da sua disciplina uma tarefa diária, eu diariamente me esforço para cumpri-la.